Por Jaqueline B. Ramos*
O tráfico de animais selvagens é um comércio ilegal multibilionário e atualmente os compradores e vendedores usam abertamente as mídias sociais da Internet para fazer seus negócios sujos. Felizmente, muitas pessoas se dedicam ao seu combate de maneiras diferentes, incluindo especialistas em computação e desenvolvimento de programas (softwares).
Por dois anos, um projeto liderado pela conservacionista norte-americana Alexandra Russo e pelo Dr. Colin McCormick, consultor técnico sênior da Conservation X Labs, vem desenvolvendo um software de reconhecimento facial que não só reconhecerá se as fotos publicadas na internet contém chimpanzés, mas também identificará qual chimpanzé (indivíduo) está em cada imagem. Desta forma, se tornará uma ferramenta essencial de rastreamento para combater o comércio ilegal.
O projeto foi batizado de ChimpFace e em novembro de 2018, durante o Conservation X Labs Con X Tech Prize, foi um dos finalistas selecionados com um protótipo preliminar desenvolvido.
Alexandra Russo explica o que é o ChimpFace e o processo de desenvolvimento do primeiro protótipo (em inglês)
“Eu tive a ideia deste software depois que comecei a ajudar o Dr. Dan Stiles no Pegas (sigla em inglês para Project to End Great Apes Slavery/Projeto pelo Fim da Escravidão de Grandes Primatas). Rapidamente percebi que procurar criminosos on-line era realmente tedioso, porque é como procurar uma agulha no palheiro, entre centenas e milhares de fotos na internet. Me deu um estalo que poderia haver uma maneira melhor de fazê-lo e comecei a procurar especialistas em computação, perguntando se desenvolver um algoritmo para reconhecer grandes macacos em imagens era algo possível de ser feito. Felizmente eles disseram sim, que era necessário apenas escolher um para começar”, conta Russo.
De fato, a tecnologia por trás do ChimpFace é muito semelhante àquela aplicada em programas de reconhecimento de imagens já utilizados pelas forças policiais para outros tipos de crimes. Para o ChimpFace nascer, foi necessário trabalhar com fotos de chimpanzés conhecidos para o desenvolvimento do algoritmo.
A ideia do software foi então apresentada para nove organizações de conservação e proteção de grandes primatas (Centre de Conservation pour Chimpanzez/Project Primate International, Chimpanzee Sanctuary Northwest, Duke University, Projeto GAP Brasil, Jane Goodall Institute, Save the Chimps Sanctuary, Sweetwaters Chimpanzee Sanctuary, Tacugama Chimpanzee Sanctuary e Liberia Chimpanzee Rescue and Protection), que, naturalmente, se tornaram apoiadores fundamentais do ChimpFace, fornecendo imagens de chimpanzés cativos que atualmente vivem em santuários - e também algumas fotos de chimpanzés selvagens.
Billy é um dos chimpanzés que vivem no Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba/Brasil, afiliado ao Projeto GAP, e é um dos "voluntários" para imagens de rosto para o desenvolvimento do ChimpFace |
"Quanto mais imagens obtivermos, mais precisos seremos na construção do software. Ainda precisamos melhorar bastante, mas já começamos. E estamos muito empolgados!", destaca Russo.
ChimpFace no futuro
Segundo Russo, a ideia original era que o ChimpFace se transformasse em um aplicativo. Mas foi decidido começar simples e mais eficaz. ”A Microsoft nos concedeu créditos de computação em nuvem, que serão usados para implantar o software. O primeiro passo do desenvolvimento é o classificador binário, que está treinando um algoritmo para reconhecer em qualquer material disponível publicamente se a imagem é de um chimpanzé ou não”, explica Russo, apontando que essa automação parcial do processo de busca, que atualmente é totalmente manual, já economiza uma quantidade enorme de tempo e dinheiro.
A segunda etapa do ChimpFace, que exige exponencialmente mais trabalho, é treinar o algoritmo para reconhecer rostos individuais, para que o movimento de um indivíduo possa ser rastreado on-line e ao vivo, quando o chimpanzé for localizado em instalações em diferentes cidades e países.
Russo diz que esta é a grande meta do projeto. Sem mencionar outras aplicações úteis para o ChimpFace no futuro (ver abaixo), como monitorar o comércio de chimpanzés vivos e até mesmo estudar populações de chimpanzés selvagens.
Atingir metas tão grandes certamente exigirá fontes expressivas de fundos para pagar pelo tempo de especialistas em desenvolvimento. Mas a conservacionista está otimista sobre isso. “Em um mundo ideal, uma empresa de tecnologia ou mídia social pode incorporar o ChimpFace em seus sistemas, pois já monitoram rotineiramente alguns crimes. Por que não adicionar isso ao nível de policiamento já feito?”, propõe Russo. “Tenho certeza que a hora para investir no ChimpFace é muito adequada, porque tanto o tráfico de animais selvagens quanto a inteligência artificial (IA) estão recebendo muita atenção e sendo muito anunciados. Por isso, é apropriado levar a luta contra a caça ilegal de animais silvestres à atenção de grandes empresas”, conclui.
Leia mais sobre o ChimpFace em https://conservationx.com/project/id/8.
*Jornalista (Ambiente-se Comunicação Socioambiental) e Gerente de Comunicação do GAP Project International.
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