quinta-feira, 28 de junho de 2018

Campos rupestres brasileiros sofrem ameaça perigosa

Por Jaqueline B. Ramos*

Florestas são as áreas mais ricas em biodiversidade e merecem toda a atenção e prioridade para conservação e uso sustentável? A resposta é: não necessariamente… 

No Brasil, pesquisadores da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, da Unesp-Rio Claro e da Universidade Stanford fazem um alerta sobre as graves ameaças aos campos rupestres (foto), complexos vegetacionais muito antigos e megadiversos, que abrigam mais de 5000 espécies de plantas vasculares e um dos níveis mais altos de endemismo no mundo. Em solo brasileiro, ocupam uma área de cerca de 83 mil km2 em montanhas de quartzo e ferro nos estados de Minas Gerais e Bahia, sendo a maior parte localizada na Serra do Espinhaço.

Segundo o estudo científico “The deadly route do collapse and the uncertain fate of Brazilian rupestrian grasslands”, divulgado em maio, se as formas de uso da terra continuarem insustentáveis e considerando os efeitos das mudanças climáticas em curso, a previsão é a perda de 82% desse ecossistema até 2070. Isso comprometerá os serviços ecossistêmicos em escalas regionais, incluindo fornecimento de água e segurança alimentar, e afetará potencialmente mais de 50 milhões de brasileiros.

“A mineração é uma das atividades que causam impactos negativos. Outras são construções mal planejadas de estradas, invasão biológica, expansão urbana e a total incapacidade dos órgãos ambientais de fiscalizar e agir devido à ignorância sobre o ecossistema. O turismo predatório e a silvicultura são outros vetores de grande relevância. Tudo tem sinergia e colabora para uma rota de colapso”, explica Geraldo Wilson Fernandes, um dos autores do estudo.

Efeito cascata na biodiversidade

Assim como as áreas florestadas, os campos rupestres sofrem o efeito cascata dos impactos na biodiversidade quando há atividade humana descontrolada. “Espécies não existem sozinhas e muitas dependem de outras para sua sobrevivência”, alerta Fernandes. “A retirada de espécies vitais resulta em uma cascata de eventos que pode levar ao colapso de todo o ecossistema e à mudança na produção de bens naturais”.

Um dos pontos importantes destacado pelo estudo, que inclui dados coletados há 30 anos, é considerar o uso sustentável e a conservação dos campos rupestres respeitando suas características. Ou seja, não tratá-lo como floresta.

Os ambientes de campos rupestres têm milhões de anos e não há condições de solo para manter uma floresta sobre pedra. Há uma harmonia entre as forças naturais que permite a sobrevivência de determinadas espécies. Retirá-las e plantar árvores, de acordo com Fernandes, atende apenas a interesses econômicos.


“Mais do que ter áreas preservadas em formato de parque, nosso plano é estabelecer com a sociedade e tomadores de decisão uma proposta de pacto pelo uso racional dos campos rupestres, baseada em conhecimento científico, e trabalhar em rede com as partes interessadas. Do contrário, medidas políticas podem não ser efetivas”, conclui o pesquisador.

Resumo em imagens

1. Os campos rupestres são complexos vegetacionais muito antigos e megadiversos, que abrigam mais de 5000 espécies de plantas vasculares
2. Se as formas de uso da terra continuarem insustentáveis, serviços ecossistêmicos como fornecimento de água ficarão comprometidos

3.  Os campos rupestres sofrem com o efeito cascata dos impactos na biodiversidade quando há atividade humana descontrolada e não devem ser tratados como florestas 


4. Os pesquisadores pretendem apresentar uma proposta de acordo para o uso racional dos campos rupestres baseada em conhecimento científico e trabalhar em rede com todas as partes interessadas

Crédito das fotos: Ricardo Solar


*Jornalista ambiental (Ambiente-se Comunicação Socioambiental) e Gerente de Comunicação do Projeto GAP Internacional

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